O que é demência?
Demência ou síndrome demencial é quando há um declínio cognitivo ou comportamental que impacta nas atividades diárias do indivíduo. Essa alteração pode ser causada por diversas doenças e, inclusive, por alterações orgânicas que podem ser reversíveis. Por isso, é importante uma avaliação médica minuciosa com o geriatra, que é especialista nesses casos.

Qual o médico que trata de demência?
Eu sou a Dra. Lirenna Narciso, médica geriatra especialista em demências. Investigo minuciosamente meus pacientes, chegando ao diagnóstico mais acertado e tratando-os adequadamente.
Também busco ser suporte para os familiares e cuidadores, que também são impactados e sofrem com todas as alterações decorrentes dessa enfermidade. Forneço orientações de cuidado, maneiras de lidar com crises de comportamento e educo-os sobre a doença para que consigam passar por esse processo de maneira mais leve.
Atendo em Fortaleza, no consultório, em domicílio, e também faço visitas e acompanhamento de idosos internados.









Para além da perda de memória…
É muito comum os quadros demenciais surgirem com queixas de esquecimento e de perda de memória, mas a cognição é muito mais do que a memória. Ela é dividida em domínios cognitivos, que são:
- Função executiva:
Conjunto de habilidades que faz com que consigamos planejar e executar habilidades complexas e resolver problemas. Por exemplo: ao preparar um almoço, precisamos planejar quais os ingredientes serão utilizados, quantidades, organização na hora de preparar vários pratos ao mesmo tempo, monitorar o tempo de cozimento. Ao fazer compras, precisamos planejar a lista, procurar no supermercado onde estão os produtos, pagar e checar o troco. Essas são tarefas que utilizam a função executiva. - Atenção:
Capacidade de sustentar e alternar o foco da atenção de acordo com as demandas do ambiente. Por exemplo: manter-se atento a programas de TV e conseguir acompanhar, manter atenção durante uma conversa sem distrações externas. - Linguagem:
Habilidades que envolvem: nomear objetos, manter um discurso fluente e coerente sem pausas, repetir quando solicitado, ler e escrever. - Memória e Aprendizagem:
Memorização de fatos acontecidos, conversas, lembrar de atos do dia a dia, como apagar o fogão, desligar a torneira. - Habilidades visuoespaciais:
Percepção e interação com o ambiente. Utilizamos essas habilidades para estacionar um carro, reconhecer a vizinhança e locais familiares, montar um quebra-cabeça. - Cognição social:
Envolve o comportamento e a empatia. Inclui saber se portar de acordo com convenções sociais e reconhecer emoções próprias e do outro.

Quais os principais sintomas da demência?
Qualquer alteração nas funções cognitivas chama atenção para um quadro demencial, então é importante observar o idoso que apresenta alterações como:
- Não consegue mais fazer compras ou pagar suas contas sozinho
- Não consegue mais preparar refeições
- Se perde durante as conversas
- Não lembra de algo que falou há pouco tempo ou repete as mesmas conversas
- Esquece o fogão aceso, a torneira ligada, ou onde guardou objetos
- Se perde em locais que costuma frequentar
- Alterações na linguagem: pausas durante a conversa, troca de nomes de objetos ou não consegue nomeá-los
- Alterações de comportamento como desinibição, uso de palavrões, agressividade, alteração de personalidade, apatia
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico passa pela realização de testes cognitivos durante a consulta médica, em que os vários domínios são testados para avaliar se há realmente comprometimento. Além disso, algumas escalas de funcionalidade são aplicadas com o familiar ou cuidador que convive com o paciente para entender quais são as suas dificuldades do dia a dia.
É muito importante que quem forneça as informações seja alguém que tem contato diário ou quase diário com o paciente, para que sejam o mais corretas possíveis.
Confirmada a alteração cognitiva juntamente com alteração de funcionalidade, o paciente recebe o diagnóstico de demência. Mas é importante saber se essa alteração é decorrente de alguma outra doença que está impactando suas funções mentais ou se é uma doença neurológica, como o Alzheimer.

Causas reversíveis do quadro devem ser investigadas, como:
- Depressão/ansiedade
- Deficiência de vitaminas
- Sífilis e HIV
- Medicamentos inadequados
- Infecções causando delírio
- Alterações sensoriais, como déficit visual e auditivo
- Tumores cerebrais
- Apneia do sono
- Entre outras
Realizada toda a investigação e excluídas as causas reversíveis, dá-se o diagnóstico de uma demência primária e, a depender do quadro clínico, juntamente com o exame de ressonância de crânio, podemos definir qual o tipo de demência do paciente.
Quais os tipos de demência existentes?
As quatro mais comuns são:
Demência de Alzheimer:
Tipo de demência mais comum e a mais conhecida. Corresponde a cerca de 60% das demências primárias. Afeta mais de 1 milhão de brasileiros atualmente e gera prejuízos tanto para o paciente quanto para a sua família.
Causas:
É causada pela combinação de fatores genéticos e ambientais (como tabagismo, má alimentação, sono inadequado, hipertensão e diabetes). Pessoas que possuem parentes de primeiro grau apresentam cerca de 3 vezes mais risco de desenvolver a doença.
Sinais e sintomas:
Caracteriza-se pelo comprometimento principal da memória recente, apesar de outros domínios também serem afetados.
O Alzheimer pode ser dividido em fases de acordo com o prejuízo do idoso em suas atividades, como vemos abaixo:
- Fase inicial: o idoso tem dificuldades na organização de contas e pagamentos, esquece senhas, esquece comida no fogão e repete conversas.
- Fase moderada: normalmente já tem dificuldade na escolha de vestimentas e os sintomas comportamentais como agitação e agressividade iniciam.
- Fase avançada: não consegue fazer atividades básicas sozinho, como tomar banho, se vestir ou realizar sua higiene após necessidades fisiológicas, até o momento em que fica acamado e totalmente dependente de terceiros.
Diagnóstico:
Baseado no quadro clínico do paciente e análise do exame de ressonância de crânio, que mostrará alterações com atrofia do hipocampo (parte do cérebro responsável pela memória).
Tratamento:
Baseado na classe de medicamentos chamados anticolinesterásicos e, na fase moderada, geralmente é acrescentada uma medicação da classe dos antagonistas do receptor NMDA.

Demência Vascular:
Segunda causa mais comum de demência, correspondendo a um terço dos casos. É comum a coexistência de demência de Alzheimer com demência vascular, sendo muitas vezes difícil afirmar que a demência seja puramente vascular ou puramente Alzheimer.
Causas:
Comprometimento dos vasos cerebrais devido a fatores de risco cardiovascular como hipertensão, tabagismo, diabetes, colesterol elevado, histórico de AVC (acidente vascular cerebral) e arritmias como fibrilação atrial.
Sinais e sintomas:
Declínio da cognição, com maior predominância de disfunção executiva, associada a alterações de vasos, podendo acontecer após um AVC, o que fala ainda mais a favor do diagnóstico. Outra característica da demência vascular é o caráter flutuante dos sintomas, com dias melhores e dias piores.
Diagnóstico:
Quadro clínico compatível associado a exame de imagem, de preferência a ressonância de crânio com evidências de alterações vasculares.
Tratamento:
Tratar e controlar bem os fatores de risco. Os medicamentos anticolinesterásicos também são utilizados visando melhora da cognição e redução da progressão, assim como os antagonistas do receptor NMDA.
Demência Frontotemporal:
Tipo de demência em que as alterações do comportamento estão presentes desde o início do quadro, juntamente com disfunção executiva e alterações de linguagem. É subdividida em variante comportamental e variante de linguagem, de acordo com os sintomas predominantes.
A média de idade do diagnóstico dessa demência é de 58 anos, sendo considerada uma demência pré-senil, apesar de que idosos também podem tê-la.
Causas:
Alterações genéticas causam modificações nas proteínas do cérebro e degeneração de neurônios. Tem forte associação genética, com até 50% dos pacientes com história familiar em parentes de primeiro grau.

Sinais e sintomas:
Na variante comportamental, temos os seguintes sintomas: Mudanças de personalidade, desinibição, conversas, gestos e atitudes inapropriados, déficit na compreensão dos sentimentos do outro, alteração dos hábitos alimentares com compulsões ou colocar muita comida na boca de uma vez, comportamentos repetitivos e disfunção executiva (dificuldade no planejamento e execução de tarefas). Alucinações e delírios também podem estar presentes.
Na variante linguística: Alteração principalmente na linguagem: perda da capacidade de reconhecer ou nomear objetos, dificuldade de compreender palavras isoladas, pausas durante a fala, não uso de palavras conectoras e dificuldade em conjugar verbos. Os sintomas comportamentais costumam surgir depois.
Diagnóstico:
A partir do quadro clínico do paciente e da avaliação da ressonância de crânio, que vai evidenciar atrofia da região frontal e temporal anterior do cérebro.
Tratamento:
Não há tratamento específico para a doença. As medicações utilizadas visam controlar os sintomas comportamentais, mas não alteram o curso da doença.
Demência de Corpos de Lewy:
Uma síndrome que envolve, além da demência, sintomas neurológicos, psiquiátricos e falhas no sistema nervoso autônomo (o sistema que regula os batimentos cardíacos, pressão arterial, suor, digestão).
Causas:
Depósitos anormais de proteínas nos neurônios geram os sintomas.
Sinais e sintomas:
Sintomas psiquiátricos (alucinações, alterações de comportamento, depressão, apatia, ansiedade) são muito comuns. Sintomas neurológicos (tremor, rigidez, lentificação dos movimentos, transtornos do sono). Sintomas sugestivos de alteração do sistema autonômico (desmaios, tontura ao se levantar, quedas, incontinência urinária, constipação intestinal). Demência, com menos comprometimento da memória e mais alteração na atenção, função visuoespacial e funções executivas.

Diagnóstico:
Feito com base nos sinais e sintomas do paciente. Nesse caso, o exame de ressonância é normal, e outros exames como PET/SPECT podem ajudar mais no diagnóstico.
Tratamento:
É direcionado para os sintomas; para a demência utilizam-se anticolinesterásicos, para alterações psiquiátricas, baixas doses de antipsicóticos. Podem ser utilizados também estabilizadores de humor e antidepressivos.
Mais sobre tratamentos das demências
O tratamento de todas as demências deve envolver também outros profissionais de saúde, como:
- Terapeuta ocupacional: desenvolve atividades de estimulação de todos os domínios cognitivos, ajudam na manutenção da funcionalidade, criando e orientando dispositivos que auxiliem o idoso a fazer suas atividades básicas de vida.
- Fisioterapeuta/educador físico: para manutenção do ato de caminhar, fortalecimento, trabalho do equilíbrio e redução do risco de quedas, além da prevenção de contraturas dos pacientes acamados.
- Nutricionista: atua na adequação da dieta individualizada para cada paciente, visando evitar perda de peso, desnutrição e sarcopenia (perda de massa magra).
- Fonoaudiólogo: avaliação da deglutição e orientação da melhor dieta de acordo com a dificuldade de deglutição (encontrada comumente em fases mais avançadas da demência). Além de atuar também na parte da linguagem.
- Psicólogo: contribui para a saúde mental do idoso com alterações psiquiátricas como ansiedade e depressão, muito comum nas demências. Também é aliado dos familiares, que têm inúmeros prejuízos ao cuidarem de um idoso com demência.

Conclusão
Muitas vezes, a perda de memória no idoso é minimizada e considerada como normal da idade, o que acaba atrasando o diagnóstico e o início do tratamento adequado. Devido a isso, é essencial que qualquer alteração da cognição ou do comportamento no idoso seja considerada e investigada pelo especialista, para que o tratamento seja instituído precocemente, visando o retardo na progressão da demência.

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